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Perdi minha batalha. O machismo passa bem

Nasci tricolor e coleciono histórias de fanatismo e paixão. Sempre morei no interior, muito longe de São Paulo e do queridíssimo Morumbi. Tinha que torcer todos os anos para times da região não caírem no Paulista e assim, se tivesse sorte, ver o tricolor jogar mais perto. Fui ao meu primeiro jogo no Morumbi no ano passado, dia 06 de maio, jogo entre São Paulo e Cruzeiro. Foi inesquecível, apesar de mais de 2000 km rodados em dois dias bate-volta, já que na época morava em Campo Grande (MS).


Ir ao estádio em dia de jogo é quase impossível para quem tem que se deslocar de muito longe. Até mesmo para quem é de São Paulo, Porto Alegre, Salvador ou qualquer outra cidade que recebem partidas cotidianamente, já que muitas delas acontecem no meio de semana, à noite e com o término tão tarde que poucas linhas dos transportes coletivos permanecem em circulação.


Meio de semana, dia 28 de abril, quinze para as dez da noite. Eu tive a chance! Cinco dias antes, poucos ingressos restantes e eis que consigo agarrar o meu. Por conta da burocracia e antes que pudéssemos resolver, esgotaram-se os bilhetes e a minha companhia ficou sem o dela.


Eu perdi minha chance. Eu perdi a minha chance. E por quê? Por que sou mulher. Porque me acovardei de ir sozinha em um jogo de futebol lotado de homens, num meio totalmente machista e sexista e ainda, olha só, à noite.


Quantas mulheres ficam em casa em dias de jogos porque não se sentem seguras nos estádios? Por que precisam de companhia masculina para ver os jogos e serem respeitadas? Por que precisam se vestir de forma que “chamem menos atenção” para evitar assédio? Por que podem ser abordadas e intimidadas? Porque podem ser violentadas e levarem a culpa por simplesmente estarem aquele horário fora de casa e ainda num jogo de futebol? Por que não confiam na segurança do transporte coletivo e ficam com receio de voltar para casa?


O machismo é institucionalizado, vem de cima para baixo, de dirigentes, técnicos, jogadores, torcida e da própria mídia que ainda objetifica a mulher e reforça os estereótipos. E, infelizmente, não são apenas as mulheres, nesse mundinho de macho que é o futebol, que se sentem acuadas e sofrem qualquer tipo de violência, seja física ou simbólica, negros e homossexuais também.


Perdi uma batalha, mas não a guerra. Continuarei na luta pela igualdade, para que possamos ter o mesmo espaço e reconhecimento que o homem. Para que tenhamos liberdade de ir sozinha aos espaços, sem ser hostilizada, assediada e violentada. Chega desse papo! Lugar de mulher é no estádio também! Avante mulheres! Avante tricolor!

Torcida feminina do Ceará em protesto para a ampliação da participação das mulheres nos estádios (Foto: Thais Jorge)

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