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Primeira organizada feminina é do Brasil

Presidente da organizada Flu Mulher em comemoração pelos sete anos de torcida (Foto: Reprodução/Facebook)


A carioca Kaka Soares de 45 anos, formada em administração, é presidente e fundadora da Flu Mulher, torcida organizada do Fluminense Football Club e a primeira do mundo composta só por mulheres. Ela fala como criou a organização e as dificuldades enfrentadas ao longo dos quase dez anos de história.


De onde surgiu a ideia de criar uma torcida só para mulheres? A ideia foi minha mesmo. Amo futebol desde pequena e sempre lutei por direitos iguais.


Por que a necessidade de uma torcida feminina? O fato de poder ter mais mulheres e crianças nos estádios. Sempre fui a favor e tenho convicção que isso iria contribuir para diminuir a violência nos estádios, por isso estou fazendo uma campanha.


Por que você acredita que mulheres e crianças nos estádios diminuiriam a violência? Você pode prestar atenção que é muito difícil você ver alguma mulher ou criança onde tem confusão e brigas nos estádios. Você nunca vê, porque por mais insensível, este pequeno grupo procura tirar mulheres e crianças de perto porque sabe que será ruim (acha que vão atrapalhar o confronto, o que é verdade). O comportamento de ambos nos estádio é bem diferente, as mulheres torcem com muito amor e paixão pelo time. Os homens torcem como se fosse os donos e por isso se acham no direito equivocado de agredir quando se sentem contrariados.


Como foi o processo de criação e reconhecimento pela diretoria do clube e pelas outras torcidas organizadas do Fluminense? Processo foi complicado, eu tive que fazer vários projetos até se adaptar as normas do meu clube e aceitação do meu Presidente. Depois tive que procurar me adaptar às regras dos órgãos que são responsáveis por torcidas organizadas, o Gepe (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios) e o Ministério Público.


Quais as dificuldades enfrentadas? Muitas! Posso dizer com toda certeza que não é para qualquer mulher. Temos todos os problemas e dificuldades que qualquer torcida tem e um pouco mais pelo fato de sermos mulheres e sofrermos preconceito.


Qual o maior preconceito que ainda enfrentam? Foi feito algo para que pudessem ser “mais” respeitadas? O maior preconceito ainda é o fato de achar que mulher não entende de futebol. O mais importante de acabar com o preconceito é o reconhecimento do seu clube lhe dando toda a igualdade.


O que mudou da criação da torcida até hoje? Hoje, depois de nove anos, ainda lutamos contra o preconceito, apesar de hoje em dia ser menor do que na época em que começamos. Temos os mesmos deveres e direitos de qualquer outra torcida. Também somos muito mais conhecidas e respeitadas.


As dificuldades diminuíram? Ainda são muitas. Mas bem menos que no começo. O amor pelo seu clube é maior que tudo.


As torcedoras aderiram à ideia? Quantas associadas têm? Sim, mas muitas têm medo ainda de participar por causa da violência. Temos 3.000 mulheres no cadastro da torcida e nas redes sociais são mais de 15 mil fãs.


Qual sua principal missão na gestão da torcida? Poder conseguir diminuir a violência nos estádios de futebol e ver um estádio lotado de mulheres, tendo o direito de mostrar o seu amor pelo seu clube igual aos homens.


Como é a participação da torcida nos jogos? Apoiando, cantando e torcendo com a emoção!


Parte da torcida organizada marcando presença em jogo do Fluminense (Foto: Arquivo pessoal)


Sofrem preconceitos das torcida em geral e das outras organizadas? Dentro do Fluminense com as outras organizadas melhorou muito. Mas ainda nos deixam de lado em algumas questões por sermos mulheres.


Há alguma orientação em dia de jogo a respeito da vestimenta "adequada" para evitarem algum tipo de assédio e preconceito? Todas usam as roupas da Flu Mulher. Exemplo: Temos vestido e blusas personalizadas.


O uniforme preservam vocês do assédio e preconceito? De certa forma sim, mostra que viemos para o estádio pronta para torcer e por isso fazemos parte de uma torcida organizada só de mulheres.


Como as pessoas, principalmente os homens, reagem ao saber da torcida apenas com mulheres? Eles acham bem legal e ficam nos observando no estádio.


Ouvem aquela típica frase que mulher não entende de futebol? Não, na torcida do Fluminense são muitas mulheres, eles não têm esse tipo de atitude. Nunca tivemos com nossa torcida. Eu já tive nas redes sociais com torcida adversária, mas logo percebem que sabemos muitas vezes mais que eles. (risos)


Acredita que concursos de musas do futebol representam as mulheres que apreciam o esporte? Não, o interesse delas nesse tipo de concurso não tem nada a ver com a torcedora que gosta de futebol, e sim com o interesse pessoal em uma carreira de modelo ou com o mundo milionário do futebol, esse interesse é pessoal.


Para você, chega desse papo de... ? Chega desse papo que o lugar de mulher é no fogão! Lugar da mulher é em qual setor ela quiser, mostrando o seu valor como pessoa, seja na política, no trabalho e também no futebol. A mulher de hoje não precisa provar mais nada pra sociedade.

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